PETRA
“No caminho das caravanas”
Entre o mar morto e o golfo de Akaba, no coração de um maciço e montanhoso do deserto jordano, erguia-se outrora uma magnífica cidade
Lugar aparentemente muito pouco propício à fixação do homem e contra todas as expectativas, atraíram-nos e mantiveram-nos tornando-se mesmo por uma espécie de milagre focos de uma intensa civilização. Isto é Petra, perdida no coração do deserto jordano, numa paisagem lunar de montanhas recortadas, com um efeito belo e magnífico. Ergue-se a espectacular cidade de Petras, uma civilização desaparecida. Perdida no tempo.
Pretendeu-se durante anos que Petra não passava da famosa Rocha de Edom de que falava a Bíblia, sendo contestada em meados da década de 80. A sua fantástica decoração, própria de exaltar a imaginação humana, deu origem a várias lendas. Assim foi que o curso da água se passou a chamar Uadi Musa, porque se julgou ser alimentado pela fonte que Moisés foz brotar.
Se a estranha cidade foi uma das mais afortunadas e das mais espantosas da antiguidade, deveu-se á sua localização geográfica. A meio caminho do Mar Morto e do Golfo de Akaba, dominava duas grandes rotas comerciais da antiguidade. Uma ligava a Arábia ao Golfo Pérsico, e por sua vez ao Mar Mediterrâneo. A outra entre o norte e o sul, unia o Mar Vermelho á Síria. Os Nabateus, habitantes de Petra asseguravam o monopólio do tráfego comercial.
Comerciantes ao estilo de reis, encaminhavam para o Mediterrâneo o incenso, a mirra e precisas especiarias aromáticas. Segundo o geógrafo grego Estrabão, recebiam da costa em troca de cobre, ferro, vestuário, açafrão e especiarias Mediterrâneas. Por vezes até alguns artigos artesanais gregos e objectos de arte. Imagina-se que a riqueza acumulada seja alvo dos caçadores de tesouros. Mas os Nabateus não se contentaram em veicular mercadorias. Inspirando-se assim nas civilizações do Mediterrâneo com quem mantinham relações comerciais. Estas contribuições deram origem a uma cultura de profunda originalidade.
Quem eram os Nabateus. Povos nómadas provenientes do norte da península arábica. Através das conquistas de Alexandre, o Grande. Favoreceu as trocas comerciais entre o Ocidente e o Oriente, o que permitiu o estatuto de grandes comerciantes. Os Nabateus apareceram na história nos finais do Século IV A.C., quando a morte de Alexandre, Antígno que se havia tornado senhor do Grande Império Macedónico, quis apoderar-se da cidade de Petra. Um dos seus generais conseguiu, mas no regresso, carregado de prisioneiros e de espólios de guerra. Os Nabateus cortaram o caminho e massacraram os soldados macedónicos. Revoltado Antígno confiou ao seu próprio filho o comando de uma segunda expedição, a qual foi um novo fracasso.
Quem teria conseguido submeter esta população confinada no maciço montanhoso que constituía o seu refúgio e a sua independência. Em compensação, não se poupavam em esforços para alargar o seu domínio territorial. Durante alguns anos controlaram até mesmo a Palestina, eram senhores de Damasco quando se verificou o célebre episódio bíblico de São Paulo, fugindo para fora dos muros da cidade. Os guardas Nabateus que guardavam as portas, procuravam apoderar-se do apóstolo, que teve de ser descido dentro de um cesto do alto da muralha. A sombra do Império Romano alargou-se sobre as terras do Médio Oriente. Para satisfazer a Rainha Cleópatra, o então Imperador Romano, António, prometeu-lhe a região de Petra, chamada na época Nabateia.
Cleópatra tentará e após a Batalha de Actium, fazer passar navios do Mediterrâneo para o Mar Vermelho, mas os Nabateus incendiavam os barcos. Até que finalmente Trajano anexou ao Império Romano, o território que formava já há dois séculos um brilhante reino. Palmira ia agora fazer concorrência a Petra, aos poucos enfraquecerá a sua posição estratégia, e á qual a conquista árabe dera o último golpe de misericórdia.
Nos primeiros anos do Século XII D.C. as cruzadas apoderaram-se de Petra, assim que fundaram o Reino de Jerusalém, e quiseram possuir a grande cidade para assegurar as comunicações com o Mar Vermelho. Na Idade Média as cruzadas retomaram á sua conta o sonho dos Nabateus. Identificaram os rochedos quase inacessíveis, duas poderosas fortalezas. Os seus vestígios ainda continuam a testemunhar a audácia destes cavaleiros francos oriundos da Europa, em aventurarem-se nestas longínquas terras, até então esquecidas pelo homem. Depois Petra será abandonada e esquecida até ao início do Século XIX.
Petra é um gigantesco cenário de ópera, num mundo caótico de rochedos violentamente coloridos, sulcada de profundos vales, dominada pela massa montanhosa de Oum El-Biyara, culminando com cerca de 1.200 metros. Por ai entra-se no desfiladeiro do Siq. Uma garganta estreita e sombria que serpenteia através de altas falésias, por vezes tão estreitas que impedem a luz solar penetrar. Os passos dos animais e a voz dos homens tomam neste corredor de pedra, uma singular e única ressonância. Finalmente á saída da última garganta. Surge um monumento grandioso que brilha com cores proporcionadas pela miscelânea dos Grés.
É o Khazneh Firaun, o tesouro do Faraó, nome perfeito e lendário. Está fortificado por um motivo em forma de urna sobre a qual os árabes que por ali passavam davam tiros, na esperança de libertarem o tesouro que tinha a fama de conter. Ao entrar no Khazneh, encontra-se apenas uma sala central cavada na rocha, formando um cubo de 22 metros de lado, ladeado por mais duas salas com três nichos para os sarcófagos, hoje desaparecidos. Os monumentos de Petra, cujo o número não ultrapassa os 500, não são obras arquitectónicas propriamente referidas. Nada é construído em Petra, à excepção o Grande Templo, O Qasr El – Bint, cujas as ruínas subsistem nono centro da cidade. Na realidade trata-se de gigantescas obras em pedreiras. Nunca a arte rupestre, que diversas civilizações praticaram, se afirmou em Petra. Tal beleza e audácia, demonstra que aqueles que a construíram venceram as mais adversas dificuldades, realizando obras por vezes gigantescas. O Khazneh Firaun tem cerca de 30 metros de altura. O recorde é atingindo pela fachada de Ed Deir, mosteiro chamado por eremitas que aí se estabeleceram nos primeiros tempos do cristianismo. Onde se chega por meio de uma rude subida através de rochedos que medem cerca de 46 metros de largura e 42 metros de altura. A ciência confunde-se com tais realizações, implicava a escolha de pedras, auscultá-las para verificar a sua homogeneidade da pedra, fazer cálculos engenhosos para dividir as massas e conseguir formas arquitectónicas com uma profusão de colunas e esculturas de toda a espécie. A propósito dos monumentos de Petra, alguns evocam determinados edifícios do barroco italiano.
A abundante decoração cheia de fantasia e achados, enxerta-se numa arquitectura bem equilibrada, quase clássica. Infelizmente uma fachada monumental de Petra ficou inacabada. Hoje compreendemos e admiramos os processos empregados pelos Nabateus, que começavam o seu trabalho nas partes superiores. As fachadas só dão acesso a escavações pouco profundas, vazia de qualquer substância. Crê-se que algumas delas poderão ser santuários ou habitações. Os vales de Petra, são estranhos canais frequentados pelos fantasmas da morte. A cidade no tempo seu esplendor, compreendia alguns milhares de habitantes, que exigiam casas, estábulos para animais e armazéns de mercadorias. Na sua maioria estas construções deviam ser sumárias e feitas de materiais ligeiros. Assim hoje em dia vemos uma cidade desprovida de tudo o que era quadro da sua vida quotidiana. Sendo conservada apenas pela sua integração nas pedras, os sepulcros das suas personagens e as habitações dos seus deuses. Os Nabateus eram subjugados pela pedra. Lugares livres eram raros que quando quiseram construir um teatro na época romana, foi necessário cortar paredes de túmulos que haviam sido abertos nas rochas.
Não se pode concluir que os Nabateus fossem incapazes de construir grandes monumentos, prova disso é Qasr El – Bint, um templo cuja a amplitude e requinte forma revelados por escavações na década de 80. Ampla construção rectangular, erguida sobre o alto pódio, com uma fachada ornamentada por um pórtico com colunas e magníficas decorações, este templo era um dos santuários mais grandiosos da antiguidade do Médio Oriente… (Cont)